sexta-feira, 4 de julho de 2014

SANTA ISABEL - AGL






HOJE É DIA DE SANTA ISABEL NA BOAVISTA, FESTA TRADICIONAL COMEMORADA NA CIDADE DE SAL-REI
As Festas Tradicionais, comemoradas em honra aos Santos Padroeiros da ilha da Boavista, obedecem a uma cronografia própria, geralmente de acordo com o calendário gregoriano, de 1582.1 É neste quadro que a Boavista, assim como acontece em todas as ilhas de Cabo Verde, acolhe anualmente uma plêiade de festas, autênticas manifestações religiosas e sócio-culturais.
Nesta matéria, abordamos a Festa de Santa Isabel, que se comemora a 4 de Julho de cada ano, portanto, hoje é Dia da Santa Isabel na Boavista, comemorada na Cidade de Sal-Rei.
Santa Isabel
A Festa de Santa Isabel, religioso-profana, é festejada na Vila de Sal-Rei a 4 de Julho, em homenagem à Santa Isabel. Filha de Constança da Sicília, nasceu em 1271 e morreu em 1336. Casada com D. Dinis, rei de Portugal, depois da morte do marido recolheu-se no mosteiro de Santa Clara. Era tão amiga como protectora dos pobres e dos doentes que lhe chamavam, ainda em vida, de Rainha Santa. Esteve presa em Alenquer, acusada pelo próprio marido. Por interceder sempre pela paz, é também chamada de “anjo da paz”. Neste sentido, é dedicada à Santa Isabel a seguinte oração: “Ó Deus, autor da paz e da caridade, que destes a santa Isabel de Portugal a graça de conciliar os desunidos, concedei-nos por sua intercessão trabalhar pela paz, para que possamos ser chamados filhos de Deus”.2
Canonizada pelo Papa Urbano VIII a 25 de Maio de 1625, Santa Isabel é padroeira de Portugal. É atribuído à Santa o milagre das rosas. Conta-se que certo dia de Janeiro a Isabel carregava pães para pobres famintos quando, inesperadamente interceptada pelo marido que lhe perguntou o que levava na cesta, respondeu: rosas. Antes de fechar a boca, os pães tinham-se transformado efectivamente em rosas, o que era estranho, pois o mês de Janeiro não era época de rosas. Observe-se que o milagre das rosas foi primeiro atribuído a Isabel da Hungria, por sinal sua bisavó, nascida em 1207 e falecida vinte e quatro anos depois.
Na Boavista, Santa Isabel é padroeira da Cidade de Sal-Rei, onde se construiu em 1857 uma Igreja à Santa. Note-se que, entre 1810 e 1820, com a transferência da então Paróquia de S. Roque, no Rabil, para a então Povoação de Sal-Rei (1820), foi construída uma capela em Sal-Rei dedicada à Santa Isabel, a que a igreja de 1857 viria a substituir. Aliás, desde a transferência da então Paróquia da Povoação-Velha para o Rabil, em 1810, as autoridades civil e militares passaram a residir em Sal-Rei, onde erigiram uma capela.3
Durante os festejos, para além da Santa Missa e bailes, realizam-se hoje não só vários tipos de desportos, com destaque para corrida de cavalo, regatas e torneios de futebol, mas também manifestações culturais. Antigamente, davam-se fartos almoços populares e realizavam-se também o pegâ kéda, o miron e o kortâ-góle-kabésa. Caídas em desuso, hoje, tanto os abundantes almoços como as atividades lúdicas estão sendo reavivadas!
No dia da Santa Isabel, antes da Santa Missa assiste-se à cerimónia religiosa dos botes na Baía da Vila de Sal-Rei. Mais precisamente, as embarcações aproximam-se dos lados da rua Santa Bárbara, acompanhando assim a cerimónia religiosa em terra. Essa cerimónia realiza-se com procissão, orações, cânticos e bênçãos dirigidos pelo pároco da Freguesia, nas imediações da antiga Cruz das Almas na Rua da Santa Bárbara. De acordo com a tradição oral, trata-se da “bênção do mar”, com oração e aspersão do mar com água benta pelo oficiante. A procissão continua até à igreja, seguindo-se a liturgia eucarística. Só depois desta terminada, ocorria a regata a partir do cais da Alfândega, os concursos de natação e do pega-kéda na Praia de Diante.
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1 Sobre este calendário, consulte-se SERRÃO, Joel (direcção de) – Dicionário de História de Portugal. Porto: Livraria Figueirinhas, 1985. Vols. I. p. 435-438.
2 “A Capela de Santa Isabel2.. Praia: Hospital “Agostinhos Neto”, 2000. (contra-capa).
3 BARCELLOS, Christiano José de Senna – “Subsídios para a História de Cabo Verde e Guiné”. PARTE III, Cap.III. Lisboa: Typographia da Academia Real das Sciencias, 1905, p. 189.
Praia, 04/07/2014
António Germano Lima
Docente da Unicv.