terça-feira, 7 de setembro de 2021

MARIO M ( FB)



DA SÉRIE "SEI O QUE FIZESTE NA DÉCADA DE 90 DO SÉCULO PASSADO"

Já vimos a primeira parte do filme "Uma Aventura Crioula", o "core business" da campanha presidencial do Dr. Carlos Veiga.

Aguardemos pela Parte II, onde certamente se abordará o consulado do candidato, como Primeiro-Ministro.

Mas, por ora, será bom começar por um episódio prévio ao da governação, que ajuda a  perceber a persona por detrás do político:  - Que circunstâncias proporcionaram a designação de Carlos Veiga como Coordenador Provisório e, mais tarde, Presidente do então recém-criado Movimento para a Democracia?

Em S. Vicente há uma expressão que se aplica a esse processo como uma luva: el táva ta guardá Jorge Carlos Fonseca lugar. Ou outra, el tava ta guentá-l time.

Efectivamente, os fundadores do Movimento tinham a percepção de um PAICV com excelente imagem externa, entre outras razões, pelo rigor e honestidade da gestão da Ajuda Pública ao Desenvolvimento, com resultados concretos no desenvolvimento do país, já então um exemplo em África.  Assim, consideraram que precisavam de uma personalidade de prestígio para liderar o Movimento, capaz de lhe conferir notoriedade face aos parceiros externos e no plano interno.

Foi consensual o  então académico Jorge Carlos Fonseca, à época a leccionar na Universidade de Macau, com créditos firmados na luta contra o regime de Partido Único, tendo sido o fundador, em Portugal, dos Círculos Cabo-verdianos Para a Democracia  (CCPD), que faziam combate político ao regime monopartidário.

Mas, JCF não podia se desvincular com a rapidez que a agenda política do MpD exigia.

Deste modo, consensualizou-se a figura de Carlos Veiga como Coordenador Provisório do MpD, aguardando-se a ida de JCF.

Veiga tinha sido eleito Deputado em 1985, sob proposta da sociedade civil, na Praia, e de alguns militantes do PAICV, do então Sector Urbano, no âmbito da evolução do processo eleitoral no regime, que passou a ter um momento de consulta popular de potenciais candidatos, havendo a possibilidade de surgirem propostas de introdução de novos candidatos, nas assembleias realizadas para as consultas.

Carlos Veiga,  manteve excelentes relações com as principais figuras do regime e muitos dirigentes e militantes destacados do PAICV e continuou a participar activamente no processo legiferativo,  tanto na Assembleia Nacional, enquanto Deputado,  como na qualidade de consultor (bem) remunerado de legislação governamental.

Simultaneamente, liderava o Instituto do Patrocínio e Assistência Judiciários (IPAJ), onde exerceu como advogado em defesa ds direitos e liberdades de cidadãos, vitimas de graves mas pontuais excessos de autoridades policiais.

Jorge Carlos Fonseca  não conseguiu fazer a desvinculação das suas funções académicas, no timing certo. Carlos Veiga, que vinha acompanhando toda a troca de mensagens com JCF, pois, era através do fax do seu gabinete de advocacia que a comunicação com JCF se processava, jogou bem os "pauzinhos da Política" e passou a ser o Coordenador Provisório, de nome, mas, na prática,  líder de facto do Movimento tendo sido,

mais tarde, confirmada a sua liderança plena, em Convenção do MpD.

Um dia, os historiadores  hão-de deslindar todas as razões por que, gente com provas dadas na luta anti regime de Partido Único, na "tapadinha", com sólida formação política e não só, foi preterida no processo selectivo da liderança do Movimento...

Como é fácil de se constatar, essa resenha é mais uma prova, com elementos factuais, que deitam por terra a peregrina tentativa de criação do mito de " Pai da Democracia"!

Curioso é que logo após a deliberação do Conselho Nacional do PAICV de 19 de Fevereiro de 1990, dita de abertura política do regime, Carlos Veiga tinha manifestado o seu desinteresse em qualquer projecto de constitução de um novo partido ou mesmo de participar nalgum que viesse a ser criado. O que terá acontecido para essa radical mudança de atitude?

Parece que estamos perante um traço característico deste candidato presidencial, concorrente pela terceira vez, de ter dificuldade em honrar a sua palavra em compromissos que até envolvem questões de Estado.

Recorde-se que o Dr. Eurico Monteiro, na altura do primeiro cisma no Movimento que deu origem à criação do PCD, acusou Carlos Veiga de faltar à palavra e de mentir: segundo o relato do então Ministro da Justiça, o PM ter-lhe-ia jurado pela alma da sua mãe que não o ia demitir. Pois, foi o tempo de Eurico Monteiro ter chegado ao seu gabinete ministerial e receber, pelas mãos de um guarda de corpo, um bilhetinho de sua Excelência o PM Carlos Veiga, a comunicar-lhe a sua demissão! Tudo isso, e outros factos aqui citados, estão documentados em jornais da época.

Voltaremos para fazer a antevisão da II parte do filme em que o "sport" é Carlos Veiga.



OLISANTO NATELIZA