DA SÉRIE
"SEI O QUE FIZESTE NA DÉCADA DE 90 DO SÉCULO PASSADO"
Já vimos a
primeira parte do filme "Uma Aventura Crioula", o "core
business" da campanha presidencial do Dr. Carlos Veiga.
Aguardemos
pela Parte II, onde certamente se abordará o consulado do candidato, como
Primeiro-Ministro.
Mas, por
ora, será bom começar por um episódio prévio ao da governação, que ajuda a perceber a persona por detrás do
político: - Que circunstâncias
proporcionaram a designação de Carlos Veiga como Coordenador Provisório e, mais
tarde, Presidente do então recém-criado Movimento para a Democracia?
Em S.
Vicente há uma expressão que se aplica a esse processo como uma luva: el táva
ta guardá Jorge Carlos Fonseca lugar. Ou outra, el tava ta guentá-l time.
Efectivamente,
os fundadores do Movimento tinham a percepção de um PAICV com excelente imagem
externa, entre outras razões, pelo rigor e honestidade da gestão da Ajuda
Pública ao Desenvolvimento, com resultados concretos no desenvolvimento do
país, já então um exemplo em África.
Assim, consideraram que precisavam de uma personalidade de prestígio
para liderar o Movimento, capaz de lhe conferir notoriedade face aos parceiros
externos e no plano interno.
Foi
consensual o então académico Jorge
Carlos Fonseca, à época a leccionar na Universidade de Macau, com créditos
firmados na luta contra o regime de Partido Único, tendo sido o fundador, em
Portugal, dos Círculos Cabo-verdianos Para a Democracia (CCPD), que faziam combate político ao regime
monopartidário.
Mas, JCF não
podia se desvincular com a rapidez que a agenda política do MpD exigia.
Deste modo,
consensualizou-se a figura de Carlos Veiga como Coordenador Provisório do MpD,
aguardando-se a ida de JCF.
Veiga tinha
sido eleito Deputado em 1985, sob proposta da sociedade civil, na Praia, e de
alguns militantes do PAICV, do então Sector Urbano, no âmbito da evolução do
processo eleitoral no regime, que passou a ter um momento de consulta popular
de potenciais candidatos, havendo a possibilidade de surgirem propostas de
introdução de novos candidatos, nas assembleias realizadas para as consultas.
Carlos
Veiga, manteve excelentes relações com
as principais figuras do regime e muitos dirigentes e militantes destacados do
PAICV e continuou a participar activamente no processo legiferativo, tanto na Assembleia Nacional, enquanto
Deputado, como na qualidade de consultor
(bem) remunerado de legislação governamental.
Simultaneamente,
liderava o Instituto do Patrocínio e Assistência Judiciários (IPAJ), onde
exerceu como advogado em defesa ds direitos e liberdades de cidadãos, vitimas
de graves mas pontuais excessos de autoridades policiais.
Jorge Carlos
Fonseca não conseguiu fazer a
desvinculação das suas funções académicas, no timing certo. Carlos Veiga, que
vinha acompanhando toda a troca de mensagens com JCF, pois, era através do fax
do seu gabinete de advocacia que a comunicação com JCF se processava, jogou bem
os "pauzinhos da Política" e passou a ser o Coordenador Provisório,
de nome, mas, na prática, líder de facto
do Movimento tendo sido,
mais tarde,
confirmada a sua liderança plena, em Convenção do MpD.
Um dia, os
historiadores hão-de deslindar todas as
razões por que, gente com provas dadas na luta anti regime de Partido Único, na
"tapadinha", com sólida formação política e não só, foi preterida no
processo selectivo da liderança do Movimento...
Como é fácil
de se constatar, essa resenha é mais uma prova, com elementos factuais, que
deitam por terra a peregrina tentativa de criação do mito de " Pai da
Democracia"!
Curioso é
que logo após a deliberação do Conselho Nacional do PAICV de 19 de Fevereiro de
1990, dita de abertura política do regime, Carlos Veiga tinha manifestado o seu
desinteresse em qualquer projecto de constitução de um novo partido ou mesmo de
participar nalgum que viesse a ser criado. O que terá acontecido para essa radical
mudança de atitude?
Parece que
estamos perante um traço característico deste candidato presidencial,
concorrente pela terceira vez, de ter dificuldade em honrar a sua palavra em
compromissos que até envolvem questões de Estado.
Recorde-se
que o Dr. Eurico Monteiro, na altura do primeiro cisma no Movimento que deu
origem à criação do PCD, acusou Carlos Veiga de faltar à palavra e de mentir:
segundo o relato do então Ministro da Justiça, o PM ter-lhe-ia jurado pela alma
da sua mãe que não o ia demitir. Pois, foi o tempo de Eurico Monteiro ter
chegado ao seu gabinete ministerial e receber, pelas mãos de um guarda de
corpo, um bilhetinho de sua Excelência o PM Carlos Veiga, a comunicar-lhe a sua
demissão! Tudo isso, e outros factos aqui citados, estão documentados em
jornais da época.
Voltaremos para fazer a antevisão da II parte do filme em que o "sport" é Carlos Veiga.
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