quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Al-Qaida estende tentáculos a Cabo Verde 17 Janeiro 2012

Polícias secretas da Europa e dos Estados Unidos desconfiam haver cabo-verdianos aqui e na diáspora, já convertidos ao Islão, a recrutar pessoas para campos de treino militar no Iémen, base da Al-Qaida. As suspeitas ganharam mais força agora com a recente visita ao arquipélago de onze elementos da facção radical islâmica Tabligh Jamaat – tida como a maior entidade de recrutamento para a organização terrorista fundada por Bin Laden – e adquirem proporções alarmantes com as declarações do ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Alain Juppé, a confirmar a expansão da Al-Qaida desde a Somália à costa ocidental africana, percorrendo toda a região saheliana. Uma ameaça real que não passou despercebida na 3ª Conferência regional do projecto “Iniciativa Paz em África”, que decorreu em Novembro na Praia.
Cabo Verde estará entre os países africanos seleccionados pela Al-Qaida para instalar células terroristas, tendo como alvo a Europa. Estas suspeitas, na verdade, vêm de há algum tempo, mas começam a ganhar contornos verdadeiramente preocupantes quando se aventa a possibilidade de cidadãos cabo-verdianos convertidos ao Islão poderem estar envolvidos no esquema. Fonte bem posicionada garantiu a este jornal que a CIA e os serviços secretos de países europeus andam a vigiar cabo-verdianos residentes e na diáspora com fortes ligações ao islamismo e a grupos fundamentalistas anti-Ocidente.

Ficheiros secretos enviados ao Serviço de Informação da República (SIR) revelam que há emigrantes de origem cabo-verdiana a integrar organizações ultra-radicais muçulmanas sediadas na Europa, cuja missão é recrutar jovens de diferentes nacionalidades para os campos de treino militar no Iémen – a base da Al-Qaida. O dossier implica pelo menos dois crioulos a viver no Luxemburgo e que estão a ser seguidos pelos serviços de inteligência europeus.

A própria CIA, o serviço secreto norte-americano, já chamou a atenção das autoridades cabo-verdianas para o perigo de a vulnerabilidade das ilhas poder permitir que células terroristas se instalem no país. Facto provado pelo polémico site Wikileaks – e noticiado por A Semana – ao divulgar documentos da diplomacia americana que relatam encontros mantidos entre a ex-embaixadora dos EUA em Cabo Verde, Maryanne Myles, e o ex-director da PJ portuguesa, Pedro do Carmo, sobre indícios de a Al-Qaida e outros grupos terem células terroristas a operar aqui nas ilhas.

Secretas de olho

Tais suspeitas voltaram a ganhar mais força e a inquietar os serviços de segurança internacionais com a recente visita a Cabo Verde de um grupo de 11 elementos da facção radical islâmica Tabligh Jamaat – um com passaporte brasileiro e 10 de nacionalidade moçambicana – para, supostamente, participarem nas festividades relacionadas com o Ramadão. É que ao chegar ao aeroporto internacional da Praia, esse grupo foi recebido por conhecidos cabo-verdianos (alguns deles empresários) que se converteram ao Islão.

“Os onze elementos do Tabligh Jamaat não foram para nenhum hotel, ficaram hospedados em casa de cabo-verdianos e foram vistos em contacto com outras pessoas em bairros degradados da cidade”, conta a nossa fonte, para quem a ligação dos cabo-verdianos ao Tabligh Jamaat não se resume à recepção e acompanhamento dos muçulmanos. “Há fortes indícios de que também participam nas actividades de recrutamento de jovens, primeiro para os converter ao islão, e depois para os seleccionar, consoante a sua aptidão física e mental, para treinamento militar em campos dominados pela Al-Qaida em África”, acusa, citando informações da DCGRS, o serviço de inteligência francês, do MI5, da Grã-Bretanha, e da CIA, americana.

Apesar de se identificarem como a mais pacífica organização do mundo muçulmano, a verdade é que o Tabligh Jamaat está referenciado como uma das maiores entidades de recrutamento de jovens para a Al-Qaida, razão pela qual a vinda de membros seus a Cabo Verde foi seguida durante todo o tempo pelos serviços secretos europeus e americanos. Daí, as suspeitas de um eventual envolvimento de cabo-verdianos, com os quais mantêm relações, nas operações ligadas à organização terrorista fundada por Osama Bin Laden.

Consta que algumas mesquitas islâmicas na cidade da Praia estarão a servir de base de recrutamento de cidadãos estrangeiros e nacionais para a Gâmbia, de onde partem para campos de treino da Al-Qaida no Iémen, e para o Norte de África, onde aprenderão tácticas terroristas utilizadas pela GIA, AQMI e o libanês Hezbollah. Este jornal soube que no ano passado dez pessoas, duas das quais de nacionalidade cabo-verdiana, foram levadas para a Gâmbia pensando que iam para uma escola corânica, quando, ao que consta, era um recrutamento para treino militar. Eles terão retornado à base por “inadaptação”. Isso depois de muitos problemas com os seus documentos que terão sido confiscados pelas autoridades de Banjul, pelo que não tinham como regressar. Um deles está agora com problemas psiquiátricos, perdido no álcool e nas drogas, supostamente, por causa da perturbação mental que sofreu. A Polícia Judiciária terá iniciado as investigações deste caso, mas ainda se desconhece o seu desfecho.

Todos estes sinais, no fundo, encaixam nos dados – que as secretas europeia e americana detêm – segundo os quais a expansão da Al-Qaida no continente africano se configura como a maior ameaça contra o Ocidente. O que Cabo Verde tem a ver com isto? Para os serviços secretos internacionais, e até para a secreta cabo-verdiana, o nosso país é a ponta final de um grande tentáculo que a Al-Qaida tem estado a expandir no continente africano e cujo alvo é a Europa (ver caixa).

A partir de Cabo Verde, acreditam vários especialistas, a Al-Qaida espera entrar com maior facilidade no território europeu. Um artigo publicado pela Jeune Afrique explica essa escolha com o facto de o nosso país ter sido colonizado por Portugal, logo com maiores possibilidades de nacionais entrarem em solo europeu via Lisboa. A teoria, segundo Ali Laiedi, especialista em terrorismo citado pela estação brasileira Globo, é extensivaà maior parte dos países africanos colonizados por nações europeias.

Para tal, a organização fundada por Bin Laden reinventou-se, subdividindo-se em pequenos grupos espalhados por diferentes cantos do mundo. “Em vez de manter a mesma estrutura, a Al-Qaida criou várias pequenas estruturas que funcionam autonomamente e com grande eficácia”, analisou Laiedi, antes de acrescentar: “Nunca na sua história, a Al-Qaida havia conseguido organizar uma base territorial tão sólida e tão próxima do Ocidente”.

Na África existem vários grupos ligados à organização criada por Bin laden, mas a mais próxima de Cabo Verde é o AQMI – Al Qaida do Magrebe Islâmico, que opera a partir dos montes Trimetrine, na fronteira entre a Mauritânia e o Mali. Do outro lado, no corno de África, está o Al Shaabab, que a partir da Somália estende os seus tentáculos aos restantes países da linha saheliana, com destaque para o Chade e Sudão, onde Bin Laden, recorde-se, esteve refugiado nos anos 90 do século passado.

Seja como for, o facto é que Cabo Verde não está mais alheio ao terrorismo. Se o nosso país não é um Estado-alvo, pelo menos figura nos dossiers da polícia internacional como zona de recrutamento de potenciais homens-bomba ou kamikazes, o que até há não muito tempo era algo impensável no nosso país. Mas, afinal, há actividades terroristas, gizadas pela Al-Qaida, que andam aqui tão perto.

Alain Juppé, ministro francês dos Negócios Estrangeiros: “A nossa maior preocupação é com o Sahel”

A Al-Qaida está a expandir-se cada vez mais no norte de África e na nossa sub-região, disse no mês de Novembro o ministro dos Negócios Estrangeiros da França. Alain Juppe, que falava ao programa L’Invité, do canal TV5, em parceria com o Le Monde e RFI, veio confirmar as suspeitas de actividades terroristas na região saheliana, ao afirmar que a organização fundada por Bin Laden está a alastrar-se com um à-vontade surpreendente nos países do Sahel. “A nossa preocupação maior é a zona do Sahel. Aqui, a Al-Qaida está bem treinada e bem armada”, insistiu o chefe da Diplomacia francesa, para quem é evidente o crescimento da Al-Qaida na África, começando na Somália, através da organização satélite Al Shaabab, e terminando na costa ocidental, dominada pela Al-Qaida do Magrebe Islâmico (AQMI).

As declarações de Alain Juppé surgiram semanas depois de os Estados Unidos da América terem autorizado aviões de espionagem invisíveis ao radar (os chamados ‘Drones’) a sobrevoar países do Sahel, para detectar actividades clandestinas ligadas a grupos terroristas nos desertos desses países, tidos nesta altura como a região mais vigiada do planeta. O governante francês defendeu ainda uma acção internacional na zona do Sahel para conter o avanço da Al-Qaida nesta região vulnerável de África, onde a AQMI mantém vários reféns ocidentais.

A Argélia é o país onde o terror islâmico conseguiu estruturar-se com mais vigor. Desde a conversão do Grupo Salafista para Pregação e Combate (GSPC) em Al-Qaida do Magreb Islâmico, em 2007, ocorreram quatro grandes atentados no país. O grupo tem ligações com o egípcio Ayman al-Zawahiri, número-2 da rede terrorista comandada pelo saudita Osama bin Laden, capturado e morto em 2011. O objectivo da Al-Qaida do Magreb é instalar um Estado islâmico no Saara, mas, conforme Ali Laeidi, a organização também usa a região como plataforma para atingir o outro lado do Mediterrâneo.

A expansão da AQMI no Sahel, região em que Cabo Verde está inserido, foi, a propósito, um dos temas em destaque na terceira Conferência sobre a “Iniciativa para a Paz na África Ocidental”, que aconteceu na cidade da Praia em Novembro passado. Na ocasião, o representante mauritano, Mohamed Ould ben Ali, disse ao A Semana que o alargamento de células terroristas ligadas a Al-Qaida na região sahelina ameaça destruir a paz a e as relações com o resto do mundo. “A AQMI está a colar-se aos traficantes de droga para implantar-se com mais firmeza na sub-região africana. Posso dizer até que o aumento do tráfico de droga está a abrir brechas para a penetração dos terroristas”, observou Mohamed Ould, que denuncia ainda o fornecimento de armas aos rebeldes que derrubaram o regime de Khadaffi na Líbia, por parte da AQMI.

A ameaça terrorista na sub-região atingiu tal dimensão que obrigou o famoso rali Paris-Dakar a deslocalizar-se para a Argentina, na América do Sul

ASEMANA


OLISANTU NATELIZA

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